quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Moura Gitana

Desde há muito o flamenco tem me causado deliciosas sensações auditivas, Os acordes de violão, até certo ponto simples, quando na execução de mestres, recebe sempre o ritmo energeticamente percussivo acompanhado de solos habilíssimos. Por mais simples que possam parecer, os contrapontos de palmas acentuam as levadas frenéticas, que são completas com algum tipo de percussão, geralmente com o cajón.

Outro aspecto extremamente chamativo desse tipo de música da cultura espanhola são os vocais: a voz flamenca é sempre rasgada, delirante, sofredora, amargurada, como se o/a cantante estivesse a um passo da morte arrebatadora.

Agora... no momento em que a dançarina trejeita com seus badulaques, envolve-se em seus lenço, desafia com seu leque e vibra suas castanholas, o espectador não sai imune. A entrega é tanta e a provocação é tamanha que sempre causam algo a alguém.

Arrisquei-me, há pouco tempo, em alguns passos básicos da dança. Matriculei-me, fiz aula e tal. No entanto, pra usar de um trocadilho bastante comum nos dias atuais, como dançarino de flamenco sou um excelente matador de baratas no chão. Então, como apreciador, pus-me ao que de melhor poderia  fazer nesse universo. E assim surgiu Moura Gitana.

Ademais, a patroa, cuja foto uso na divulgação dessa letra, exerce bem (muitíssimo) melhor a função de dançarina. A Cesar o que é de Cesar, ou, cada um no seu quadrado...


Moura gitana 

Em torno da fogueira, a cigana, dançando com seus lenços e seu leque,
Pertences, baluartes, badulaques, destino foi traçado pelas cartas.
É tanta dor em cada movimento, a dança é razão da tua vida,
A tua mão é que nunca foi lida, então revela para mim o teu tormento.
Baila, gitana, baila ao luar, me enlouquece,
Me transforma no fogo que te aquece.
Baila, cigana, baila ao luar, teu destino,
Me descobre pequeno, teu menino.

E os meus olhos loucos, tresnoitados, minados de uma gana abelheira
Invadindo abertos as fronteiras daquilo que tu tens como cercado.
E varando todos teus tapumes, penetrando fundo os teus segredos,
Me pego desvendando os teus medos enquanto me revelas teus perfumes.
Baila, gitana, baila ao luar, me enlouquece,
Me transforma no fogo que te aquece.
Baila, cigana, baila ao luar, teu destino,
Me descobre pequeno, teu menino.


Moura embaixatriz do negaceio, herança muito bruxa, meio fada,
De um jeito pouco cura, muito adaga, teus brincos me envolvem num rodeio.
Me quedo pealado por tus ojos carentes, haraganos e famintos,
e embriagado pelo vinho tinto entrego meus pertences e petrechos.
Baila, gitana, baila ao luar, me enlouquece,
Me transforma no fogo que te aquece.
Baila, cigana, baila ao luar, teu destino,
Me descobre pequeno, teu menino.

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