terça-feira, 22 de julho de 2014

Então... a Música Popular Gaúcha (Parte 2)

Creio que não seja exagero afirmar que, para muitos garotos e garotas da minha geração, a primeira identificação musical se dá com os Beatles. Então, era comum nas festinhas de garagem as músicas dos Fab Four serem consideradas limpa-bancos: ninguém ficava sentado. E naqueles anos de 1970, não estávamos nem aí pelo fato de a banda já ter acabado há tempos. Se para Lennon the dream is over, o nosso estava recém começando.
Lembro também de ouvir, aos gritos, os açoites de raiva dos que "defendiam a tradição", alegando que a juventude não pode se render à cultura estrangeira! Ora, por que não? - pergunto. Se a cultura musical que nos legavam até então era de línguas que não entendíamos (e nessa se inclui também a tal gaúcha campeira!), qual era o problema de gostarmos de músicas em uma língua que igualmente não nos era compreensível, mas que tinha ritmo extremamente contagiante?
Por isso se pode compreender por que o rock sempre foi visto aqui pelo Sul de um jeito meio... atravessado. Já cheguei a ouvir, em relação ao rock, que isso não é coisa de gente direita! Bem, então ouvir rock naqueles idos dos 1970 era uma forma de subverter a ordem. Nota: em pleno período da Ditadura! Eu tinha inveja dos garotos um pouco mais velhos que ostentavam melenas corajosas, vestiam jeans velhos e remendados e riam com desprezo dos pilchados. Com 10, 11 anos, ainda nem sonhava em quebrar os ditames familiares, que exigiam cabelos curtos e bem aparados e calças de tergal...
Os Beatles, bem sei, tornaram-se "porteiros" de toda uma geração, posto que abriram passagem pra uma infinidade de outras bandas chegarem aos nossos ouvidos gaúchos. O leque musical se ampliou e a partir de então muitos assumiram-se roqueiros, nunca mais dando a mínima para a música aqui do Sul.
Em 1975, com 12 anos, ouvi uma música que me chamou atenção. Tocada ao violão por um primo, apresentava acordes folk, modernos, e tinha a letra carregada de uma sensação de esperança, num linguajar simples, direto: Quem me ouve vai contar; quero lutas, guerra não; erguer bandeiras sem matar... Pensei comigo que som bacana! Quando ele terminou de tocar, perguntei de quem era. "Almôndegas", ele respondeu. Achei graça do nome inovador e divertido do conjunto. Daí ele completou: "A banda é daqui do RS"... (continuará)

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