quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Ela, tu e eu...

A história que envolve a composição dessa música é muito curiosa.

Ainda verão de 14, fim de março possivelmente. Depois de uma semana de muito trabalho e de uma noite de sexta-feira estendida pras primeiras horas do dia seguinte, de música, risada e cerveja, no sábado estávamos, a patroa  e eu, mais... contemplativos. Sempre considerei bacana essa coisa de não fazer sempre tudo igual, de alternar períodos extremamente sociáveis com outros mais introspectivos, de comunhão e de solidão, de som e de silêncio, de vigília e de sono.

Combinamos, no final da tarde, que eu faria para a janta apenas umas coxinhas de asa e que, muito provavelmente, nossa noite seria mais breve que a anterior, assistindo a um filme, somente nós dois.

Ao descer para a garagem cumprir minha parte do acordo, enquanto o fogo da churrasqueira ganhava força, perguntei-me entre ambientar com música ou não. Optei por não, pelo silêncio. E resolvi sair para a parte de fundos do terreno, a fim de fazer um cafuné nas minhas cadelas, enquanto esperava pra colocar os espetos na brasa. A patroa permaneceu no andar de cima, em seus aviamentos.

Qual não foi minha deliciosa surpresa ao abrir a porta? Naquele céu limpo e azulado escuro de início de noite, uma lua cheia enorme, silenciosa e estonteantemente prateada emoldurava in natura o famoso quadro de São Jorge. Fiquei fascinado, a inspiração brotou naquele exato instante.

Diante da churrasqueira, violão no colo, caneta em punho, bloquinho sobre a mesa... os versos da canção brotaram quase espontaneamente. Deu até aquela suspeita incômoda de que já existisse alguma música idêntica, de tão facilmente que a letra nasceu. Como se a música estive no meu inconsciente. E curti muito essa ideia de sugerir que pudesse estar se tratando de um triângulo amoroso, escrevendo ao meu estilo levemente agauchado.

Quando estava quase concluindo a composição, que não havia levado mais de vinte minutos, a patroa gritou lá de cima:
- Guto, daqui a pouquinho eu desço, pra te fazer companhia, tá?
E eu, ainda precisando de uns poucos minutos pra concluir a música:
- Fica fria, nem esquenta! Enquanto tu não vem, ficamos só nós dois aqui...
Ela não entendeu, mas levou ainda uns dez minutos pra descer. Já ouviu a música pronta assim que chegou. E se emocionou...

Por essa composição e por algumas outras, costumo pensar que os autores musicais não são exatamente criadores, mas sim pessoas que têm a eventual capacidade de estabelecer uma ponte entre o nosso mundo, físico e orgânico, e algum outro, desconhecido, etéreo, numa outra dimensão...

ELA, TU E EU  

Noite bendita, lua de prata,
Faz serenata na nossa janela;
Quem é mais bela: ela ou teu corpo,
Que me ilumina no escuro do quarto?

Tens um jeito bom de me pealar com teus olhares,
Que fascinam como uma lua a se exibir.
Ela é testemunha da tropilha dos segredos
Que sabemos só ela, tu e eu...

Noite infinita, laço de almas,
O brilho que acalma, desperta e mostra
O mundo pequeno no rancho sereno
Que dorme enfeitado de cores prateadas.


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