segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Então, a Música Popular Gaúcha (parte 5)

Aconteceu algo muito bacana no RS no início dos anos de 1980: vieram com força ao público um monte de artistas gaúchos, que não eram nem tradicionalistas nem roqueiros. Quando eu comecei a trabalhar em rádio, morando novamente em Lajeado, em 84, tocavam vários desses artistas direto na programação, atendendo a pedidos de ouvintes, os mesmos e tais URBANOS a quem já me referi anteriormente. Foi um período que considerei ótimo na cultura gaúcha.
Assisti a shows lotados de Nei Lisboa, Nelson Coelho de Castro e Raul Ellwanger. O Nelson, só com violão e um copinho de uísque lotava o cinema. Nem banda o acompanhava...

Entretanto, antes do fim da mesma década o rádio parou de tocá-los à exaustão, os espaços midiáticos foram se reduzindo, os shows foram rareando... e eu me perguntando o que havia acontecido. Foi desse período a alcunha MPG, pra Música Popular Gaúcha. Permaneceram alguns até os dias atuais, que podem ser chamados cult, pois têm fãs ferrenhos, mas não lotam plateias com mais de 300 ou 400 lugares.
Mais tarde, já em Caxias do Sul, tentei analisar esse fenômeno fogo-de-palha da MPG numa dissertação, que deixo linkada aqui, pra alguém que possa se interessar: 
O que nunca deixei de fazer foi me questionar, tentar encontrar um elo de identidade no qual a cultura gaúcha, tão rica e saborosa (inclusive gastronomicamente), pudesse ser representada artisticamente fora do meio  CTG. E colocar isso em acordes e letras de música. E venho tentando timidamente compor assim desde aos anos 80 do século passado. Mas como "era" complicado...
Sempre que usava uma terminologia agauchada, vinha uma espécie de auto-sensor e dizia isso não pode, tá esquisito demais, não soa verdadeiro. Então eu desistia da música...
Tive de ouvir muito Vitor Ramil, de deixar versos milongados como chove na tarde fria de Porto Alegre ditar novos sentidos às visões. Tive de abrir mão de conceitos tais que, mesmo que conscientemente eu já tivesse abortado, num nível nem tão profundo de consciência estavam lá: eu havia vivido muito tempo constatando as exclusões sociais de parte a parte no tocante aos estilos musicais. Tanto tempo, que me via vítima desse sistema, mesmo o execrando...


Foi preciso mergulhar na música feita pelos pilchados de hoje com maior profundidade, pra tentar encontrar novas essências. E, nesse mergulho psicologicamente saudável, acabei percebendo que se encerrava um ciclo da minha vida.
Com o final, em 2014, do grupo O Legado, do qual eu fazia parte e que durante mais de 8 anos tocava música poprock em bares, consegui abraçar, enfim, a nova identidade: a de gaúcho urbano, herdeiro de toda a cultura inerente ao vivente sul-riograndense, contudo desfiliado de qualquer agremiação que me obrigasse a me vestir de determinada forma ou me impusesse estilos predefinidos nas composições.
É bem verdade que, resolvidas as minhas questões, não se resolvem as dos demais, que eu gostaria que fossem ouvintes. Bom, mas isso é pensamento pra novas dissertações...



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