segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Sina de um teatino

Quem ler o título da composição vai dizer essa é gaudéria! Se chegar a ler a letra, admito, é cheia de expressões agauchadas. O instrumental... bem, é uma milonga. Estilizada, é bem verdade. Mas é uma milonga... Talvez seja por isso me empolguei, convidei um gaiteiro pra me ajudar a gravar a guia e, minado de uma certa coragem, inscrevi-a na 34ª Coxilha Nativista, de Cruz Alta, em 2014.
Não fui aprovado... 
E interpretei de mil maneiras o fato de não ter sido aceito: são mais de 700 inscritos, há nomes bem mais famosos que o meu, há composições mais voltadas ao universo nativista do que essa, blablablá... Mas levei em consideração também a possibilidade de que a música não seja boa suficiente pra constar na relação das 20 que sobram pras duas grandes noites finalistas. Ué, por que não?
Tirante isso, é uma música que muito me agrada. De certa forma, a letra me justifica nas relações afetuosas do passado. Sei quem sou, mas muitos não sabem: essa é a ideia. E, mesmo sem saber, julgam. Tu já passaste por isso, prezado leitor?
Além do que, compus a letra a partir de uns versos de um cara que foi meu aluno em Farroupilha e que hoje é meu amigo, a quem respeito pelos textos que escreve e ainda mais pelo caráter: Egui Baldasso. Até nem sei se somente respeito ou, além disso, me identifico, pois o guri dá mostras de que vai trilhar uma sina tipo a minha: teatina. De tipo poeta, vai sofrer, perseguir ladrando pneus de carros, talvez tenha de ir embora quando não quisesse. E viva um pouco aqui e outro pouco ali ou lá. Desse jeito vai forjar sua própria história.
E assim vamos tocando nossos dias...






SINA DE UM TEATINO

Música: Guto Agostini


Letra: Guto Agostini (inspirada em versos de Egui Baldasso)




Eu sempre vivi a vida como vive um haragano:

andarilho, cão sem dono, sem chegada, sem partida.

Mas deixei menos amores nos lugares que passei

do que as mágoas e as dores dos afetos que eu levei...

Em cada paixão uma história, de cada tempo a saudade,
pois numa alma, a verdade não se esconde na memória.
E de guardar os ressábios das faltas e das ausências
me sobra o destino dúbio de ter no pala a querência...




Me chamam de índio vago, andarengo, desalmado,
Desconhecem meu presente, não sabem do meu passado.
Por conta dos manotaços que me aplicou o destino
É que eu vivo teatino, de coração pela estrada.





E vou tocando meus dias pertencendo somente a mim.

Não fui eu quem quis assim, fiz aquilo que eu podia.

Quando um dia eu acordar e não mais me pertencer,

minha sina vou bolear em um presente qualquer...

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